A
globalização da informação está mudando o perfil de muitos profissionais.
Algumas profissões terão que necessariamente se adaptar ao mercado. A
informação está ocupando um grande espaço no mundo do conhecimento e a cada
minuto está sendo disponibilizada na rede global – a Internet, permitindo o
acesso a diferentes pontos do planeta (Barros, 1997).
Para
Mueller (1989, p. 63), perfil profissional é o “conjunto de conhecimentos, qualidades e competências próprias dos
integrantes de uma profissão”. Observa-se portanto, que este conceito está relacionado com a
função profissional, delineando as habilidades e atitudes necessárias para o
desempenho da mesma.
O
profissional da informação assim como se denomina na pós-modernidade os
profissionais com formação em Biblioteconomia, Documentação e Ciência da
Informação, face as rápidas transformações de natureza tecnológica, social e
econômica deve estar preparado para atuar num contexto social e mercado de
trabalho local, nacional e regional, sem esquecer o aqui e agora, mas, com
vistas ao próximo milênio, aberto às inovações tecnológicas e às oportunidades
emergentes de trabalho.
Face
a este contexto, o perfil do bibliotecário não pode mais limitar-se ao livro e
a biblioteca. Sem perder de vista este suporte que é o âmago da profissão, deve
estar preparado para tratar e disseminar a informação e conhecimento em
qualquer suporte físico em que esteja registrado, seja este uma publicação
impressa, microfilmada, audiovisual ou publicação eletrônica. Conforme
Guimarães (1997, p. 126), “novos mercados
profissionais surgem. Se antes a atividade do bibliotecário podia ficar restrita aos limites físicos de uma
biblioteca e de uma coleção, agora o uso difundido da tecnologia a serviço da
informação transpõe barreiras físicas e institucionais”.
Preocupados
com o perfil profissional exigido pelo mercado de trabalho, a ALA – American
Library Association, em 1992, afirmou que o caráter essencial da
Biblioteconomia e Ciência da Informação volta-se para a informação e o
conhecimento registrado ou registrável, bem como para os serviços e tecnologias
para habilitar sua gestão e uso, abrangendo a criação, a comunicação,
identificação, seleção, aquisição, organização e descrição, armazenagem e recuperação,
preservação, análise, interpretação, avaliação, síntese, disseminação e gestão
da informação e do conhecimento. Para a Special Libraries Association, as
competências do profissional bibliotecário devem contemplar:
·
Possuir
conhecimento especializado dos recursos informacionais nos contextos interno e
externo, com a competência para avaliar criticamente sua seleção;
·
Possuir
conhecimento especializado do “negócio” de sua instituição e dos clientes;
·
Desenvolver
e gerenciar serviços de informação eficazes a custos que se alinhem com as
estratégias da organização;
·
Oferecer
apoio e treinamento adequado para usuários;
·
Avaliar
necessidades de informação, projetar e comercializar serviços de informação com
valor agregado para satisfazer demandas identificadas;
·
Utilizar
as tecnologias da informação apropriadas na aquisição, tratamento e
disseminação da informação;
·
Utilizar
abordagens gerenciais adequadas para promover a importância de serviços de
informação junto às autoridades que tomam decisões;
·
Desenvolver
produtos de informação especializados para uso interno ou externo à
instituição, por clientes individuais (desenvolver bases de dados, home-pages,
arquivos de texto integral etc);
·
Avaliar os
resultados do uso da informação e liderar estudos relativos à solução dos
problemas de gestão de produtos e serviços;
·
Aprimorar
continuamente os serviços de informação em função de novas exigências e
desafios;
·
Ser membro
participante da equipe gerencial e um consultor da instituição em assuntos da
área de informação.
Posteriormente, em 1994, representantes de
inúmeras organizações não governamentais da área de Biblioteconomia e afins,
reuniram-se em Tóquio, por ocasião das comemorações do centenário da
International Federation and Documentation (FID). Na oportunidade foi assinada
a Resolução de Tokyo, estabelecendo que o objetivo comum do profissional da
informação é servir à sociedade. Entretanto, para que isso ocorra, o
bibliotecário deve apresentar em seu perfil habilidades, atitudes e
conhecimentos como (Santos, 1996)
Habilidades para
·
organização
do conhecimento, incluídos os processos de armazenamento e recuperação da
informação, atendendo às limitações impostas pelos diferentes tipos de
conhecimentos e por meio de ferramentas lingüísticas e conceituais adequadas;
·
a criação
de pontos de acesso físico e intelectual à informação por meio da instrução aos
usuários, produção de interfaces de acesso às bases de dados e produção de
manuais;
·
a análise
de recursos e fluxos da informação;
·
a
implementação de sistemas e serviços de informação e para a gerência de
recursos informacionais;
·
o
empacotamento e reempacotamento da informação;
·
a
aplicação de métodos de pesquisa de mercado e para a análise de custo/benefício
dos serviços prestados;
·
a
comunicação efetiva, de modo a permitir a interpretação, empatia e cordialidade
nos relacionamentos interpessoais com os usuários;
·
a
aplicação de técnicas de avaliação de programas e projetos, e para a
determinação de padrões de qualidade;
·
a pesquisa
para a docência.
Atitudes:
·
ética;
·
orientação
ao serviço;
·
mente
aberta;
·
inter-relacionamento;
Conhecimentos:
·
teorias e paradigmas da informação;
·
aspectos legais;
·
políticas de informação;
·
tendências da informação;
·
perspectiva internacional.
Ainda
na década de 90, a FID – Federação Internacional de Informação e Documentação,
criou o Grupo SIG/MIP – Special Interest Group/Modern Information Profesional -
MIP. O termo MIP, surgiu para atender a uma necessidade das unidades de
informação, que trabalham hoje, principalmente com a realidade das novas
tecnologias, contexto para o qual este profissional deve apresentar
características como: flexibilidade, inovação, imaginação e criatividade. O MIP
deve ser capaz de atender às exigências do mercado e proporcionar à sociedade
serviços e suportes de informação adequados ao seu desenvolvimento e
aprimoramento. A especialização e a educação continuada são requisitos básicos
para o profissional da informação adquirir habilidades e conhecimentos para sua
área de atuação.
No
Brasil, percebe-se a preocupação com o Moderno Profissional da Informação, onde
o mesmo foi tema de eventos da área, tema de projetos de pesquisa, disciplina
nos cursos de graduação em Biblioteconomia e principalmente, pelo volume de
trabalhos publicados na literatura, destacando-se neste momento, algumas ações
que estão sendo desenvolvidas.
Em
1997, foi realizado em Águas de Lindóia, São Paulo o IV Seminário sobre
Automação em Bibliotecas e Centros de Documentação. O relatório final do
referido evento destaca em relação ao profissional bibliotecário as seguintes
questões: (Santos, 1997, p. 6)
§
atitude de
liderança nos processos institucionais;
§
participação
nos órgão decisórios;
§
conhecimento
íntimo das necessidades informacionais das comunidades;
§
habilidades
para integrar conteúdo e comunicação;
§
Interação
com outros profissionais, trabalhando parcerias e liderando equipes
multidisciplinares;
§
Desempenho
dos papéis de intermediário, empreendedor e gestor
§
necessidade
de guiar suas ações pelos valores universais e princípios democráticos da sociedade;
§
ser um
comunicador efetivo;
§
usar
estratégias adequadas para projetar uma imagem positiva da profissão;
§
ser
consciente de sua responsabilidade social;
§
atuar como
pesquisador e gerador de conhecimentos;
§
atualizar
seus conhecimentos, destrezas e processos próprios de seu campo de forma
sistemática e permanente.
Em 1998 a ABEBD – Associação
Brasileira de Ensino de Biblioteconomia e Documentação, preocupada com a
formação do profissional da informação, realizou uma pesquisa com os 31 cursos
de Biblioteconomia do Brasil. Na Região Sul os dados foram coletados a partir
do formulário elaborado pela referida Associação e enviado aos seis cursos de
Biblioteconomia: UDESC, UFSC, UEL, UFPR, UFRGS, FURG. Esta pesquisa revelou que o Perfil almejado pelos Cursos de
Biblioteconomia da Região Sul deve levar o profissional a desenvolver as
seguintes características (Maia & Ohira, 1998, p. 30):
§
Atualizado
§
Criativo
§
Com
atuação Interdisciplinar
§
Empreendedor
§
Ético
§
Fluente em
sua própria língua
§
Inovador
§
Orientador
ao usuário
§
Proativo
§
Preocupado
com os fins
Em Santa Catarina, a pesquisa de
Bandeira (1999), realizada com os bibliotecários em exercício, levantou a
opinião dos mesmos, sobre quais os conhecimentos, habilidades e atitudes que
devem ser atribuídas ao Moderno Profissional da Informação, visando acompanhar
as exigências impostas pelo mercado de trabalho. Como resultados, foram
apontadas as seguintes características:
ter paciência; agilidade, rapidez
e simpatia, liderança e inteligência, flexibilidade, ser comunicativo,
dinamismo, organização, atualização, boa memória, persistência e acima de tudo, gostar da profissão.
Como estudo mais recente,
menciona-se Tarapanoff (2000) que aponta as novas tendências para o
profissional da informação nas bibliotecas universitárias, e que podem ser
estendidas aos profissionais que atuam nas demais unidades de informação,
mencionando ainda, que habilidades deve possuir para desempenho desses
novos/velhos papéis:
·
Preservar a informação (ser
responsável pela memória e cultura da produção técnica e científica local e
institucional);
·
Organizar a informação para uso;
·
Acessar a informação. Conectar-se a
redes, participar de consórcios e variadas formas de cooperação. Planejar a
informação;
·
Ser empreendedor,
personalizar/customizar a informação. Ser consultor e infoempresário.
Teletrabalho;
·
Trabalhar a informação, agregar
valor;
·
Socializar a informação –
preocupar-se com o acesso público à informação, a informação como um patrimônio
público;
·
Educar para a utilização da
informação e para a sociedade da informação;
·
Valorizar o conceito econômico da
informação, participar do e-commerce, oferecendo serviços e produtos
exclusivos.
·
Criar, pesquisar e consumir
informação.
Percebe-se claramente que estamos
vivenciando uma fase de mudanças significativas em todos os aspectos da
sociedade. Os perfis dos profissionais estão em constante processo de mudança,
em função das tecnologias emergentes. Valores e paradigmas estão sendo
quebrados a uma velocidade cada vez maior. A mudança do paradigma do acervo
para a informação força o bibliotecário a desviar sua atenção do meio físico
(documento) para seu objeto (a informação).
Tarapanoff (1997) discute os novos paradigmas que envolvem o fazer
do profissional da informação, destacando-se os seguintes:
·
Paradigma Tecnológico;
·
Paradigma da Biblioteca Virtual;
·
Paradigma do Acesso à Informação
·
Paradigma da Qualidade e;
·
Paradigma da Cooperação
Para Guimarães (1997), a mudança de
paradigma ocorreu gradativamente, como conseqüência das mudanças mundiais e
acredita que de certa forma o perfil do MIP deve ser considerado como
uma “evolução”, uma adequação de um perfil
profissional a um mundo em mudança (...) Passou-se a exigir do profissional um
“jogo de cintura” (adaptabilidade) que (...) pode-se concretizar por meio de
visão gerencial, acurado poder de análise, criatividade e constante
atualização”.
Portanto, a formação do profissional
bibliotecário deve estar pautada no paradigma
da informação. A formação do profissional bibliotecário, no caso
brasileiro, segundo Beraquet & Valentim (s.d), “passou por fases técnicas e humanistas. Atualmente a estrutura dos
cursos de biblioteconomia estão, na sua maioria, direcionados para esse
paradigma, o da informação, buscando um profissional dinâmico e competitivo que
de fato atenda os anseios da sociedade brasileira”.