1.2  O Perfil do Profissional da Informação

 

A globalização da informação está mudando o perfil de muitos profissionais. Algumas profissões terão que necessariamente se adaptar ao mercado. A informação está ocupando um grande espaço no mundo do conhecimento e a cada minuto está sendo disponibilizada na rede global – a Internet, permitindo o acesso a diferentes pontos do planeta (Barros, 1997).

Para Mueller (1989, p. 63), perfil profissional é o “conjunto de conhecimentos, qualidades e competências próprias dos integrantes de uma profissão”.  Observa-se portanto, que este conceito está relacionado com a função profissional, delineando as habilidades e atitudes necessárias para o desempenho da mesma.

O profissional da informação assim como se denomina na pós-modernidade os profissionais com formação em Biblioteconomia, Documentação e Ciência da Informação, face as rápidas transformações de natureza tecnológica, social e econômica deve estar preparado para atuar num contexto social e mercado de trabalho local, nacional e regional, sem esquecer o aqui e agora, mas, com vistas ao próximo milênio, aberto às inovações tecnológicas e às oportunidades emergentes de trabalho.

Face a este contexto, o perfil do bibliotecário não pode mais limitar-se ao livro e a biblioteca. Sem perder de vista este suporte que é o âmago da profissão, deve estar preparado para tratar e disseminar a informação e conhecimento em qualquer suporte físico em que esteja registrado, seja este uma publicação impressa, microfilmada, audiovisual ou publicação eletrônica. Conforme Guimarães (1997, p. 126), “novos mercados profissionais surgem. Se antes a atividade do bibliotecário podia  ficar restrita aos limites físicos de uma biblioteca e de uma coleção, agora o uso difundido da tecnologia a serviço da informação transpõe barreiras físicas e institucionais”.

Preocupados com o perfil profissional exigido pelo mercado de trabalho, a ALA – American Library Association, em 1992, afirmou que o caráter essencial da Biblioteconomia e Ciência da Informação volta-se para a informação e o conhecimento registrado ou registrável, bem como para os serviços e tecnologias para habilitar sua gestão e uso, abrangendo a criação, a comunicação, identificação, seleção, aquisição, organização e descrição, armazenagem e recuperação, preservação, análise, interpretação, avaliação, síntese, disseminação e gestão da informação e do conhecimento. Para a Special Libraries Association, as competências do profissional bibliotecário devem contemplar:

·        Possuir conhecimento especializado dos recursos informacionais nos contextos interno e externo, com a competência para avaliar criticamente sua seleção;

·        Possuir conhecimento especializado do “negócio” de sua instituição e dos clientes;

·        Desenvolver e gerenciar serviços de informação eficazes a custos que se alinhem com as estratégias da organização;

·        Oferecer apoio e treinamento adequado para usuários;

·        Avaliar necessidades de informação, projetar e comercializar serviços de informação com valor agregado para satisfazer demandas identificadas;

·        Utilizar as tecnologias da informação apropriadas na aquisição, tratamento e disseminação da informação;

·        Utilizar abordagens gerenciais adequadas para promover a importância de serviços de informação junto às autoridades que tomam decisões;

·        Desenvolver produtos de informação especializados para uso interno ou externo à instituição, por clientes individuais (desenvolver bases de dados, home-pages, arquivos de texto integral etc);

·        Avaliar os resultados do uso da informação e liderar estudos relativos à solução dos problemas de gestão de produtos e serviços;

·        Aprimorar continuamente os serviços de informação em função de novas exigências e desafios;

·        Ser membro participante da equipe gerencial e um consultor da instituição em assuntos da área de informação.

 

  Posteriormente, em 1994, representantes de inúmeras organizações não governamentais da área de Biblioteconomia e afins, reuniram-se em Tóquio, por ocasião das comemorações do centenário da International Federation and Documentation (FID). Na oportunidade foi assinada a Resolução de Tokyo, estabelecendo que o objetivo comum do profissional da informação é servir à sociedade. Entretanto, para que isso ocorra, o bibliotecário deve apresentar em seu perfil habilidades, atitudes e conhecimentos como (Santos, 1996)

Habilidades para

·        organização do conhecimento, incluídos os processos de armazenamento e recuperação da informação, atendendo às limitações impostas pelos diferentes tipos de conhecimentos e por meio de ferramentas lingüísticas e conceituais adequadas;

·        a criação de pontos de acesso físico e intelectual à informação por meio da instrução aos usuários, produção de interfaces de acesso às bases de dados e produção de manuais;

·        a análise de recursos e fluxos da informação;

·        a implementação de sistemas e serviços de informação e para a gerência de recursos informacionais;

·        o empacotamento e reempacotamento da informação;

·        a aplicação de métodos de pesquisa de mercado e para a análise de custo/benefício dos serviços prestados;

·        a comunicação efetiva, de modo a permitir a interpretação, empatia e cordialidade nos relacionamentos interpessoais com os usuários;

·        a aplicação de técnicas de avaliação de programas e projetos, e para a determinação de padrões de qualidade;

·        a pesquisa para a docência.

 

Atitudes:

 

·        ética;

·        orientação ao serviço;

·        mente aberta;

·        inter-relacionamento;

 

Conhecimentos:

 

·        teorias e paradigmas da informação;

·        aspectos legais;

·        políticas de informação;

·        tendências da informação;

·        perspectiva internacional.

 

Ainda na década de 90, a FID – Federação Internacional de Informação e Documentação, criou o Grupo SIG/MIP – Special Interest Group/Modern Information Profesional - MIP. O termo MIP, surgiu para atender a uma necessidade das unidades de informação, que trabalham hoje, principalmente com a realidade das novas tecnologias, contexto para o qual este profissional deve apresentar características como: flexibilidade, inovação, imaginação e criatividade. O MIP deve ser capaz de atender às exigências do mercado e proporcionar à sociedade serviços e suportes de informação adequados ao seu desenvolvimento e aprimoramento. A especialização e a educação continuada são requisitos básicos para o profissional da informação adquirir habilidades e conhecimentos para sua área de atuação.

No Brasil, percebe-se a preocupação com o Moderno Profissional da Informação, onde o mesmo foi tema de eventos da área, tema de projetos de pesquisa, disciplina nos cursos de graduação em Biblioteconomia e principalmente, pelo volume de trabalhos publicados na literatura, destacando-se neste momento, algumas ações que estão sendo desenvolvidas.

 

Em 1997, foi realizado em Águas de Lindóia, São Paulo o IV Seminário sobre Automação em Bibliotecas e Centros de Documentação. O relatório final do referido evento destaca em relação ao profissional bibliotecário as seguintes questões: (Santos, 1997, p. 6)

§        atitude de liderança nos processos institucionais;

§        participação nos órgão decisórios;

§        conhecimento íntimo das necessidades informacionais das comunidades;

§        habilidades para integrar conteúdo e comunicação;

§        Interação com outros profissionais, trabalhando parcerias e liderando equipes multidisciplinares;

§        Desempenho dos papéis de intermediário, empreendedor e gestor

§        necessidade de guiar suas ações pelos valores universais e princípios democráticos da sociedade;

§        ser um comunicador efetivo;

§        usar estratégias adequadas para projetar uma imagem positiva da profissão;

§        ser consciente de sua responsabilidade social;

§        atuar como pesquisador e gerador de conhecimentos;

§        atualizar seus conhecimentos, destrezas e processos próprios de seu campo de forma sistemática e permanente.

 

Em 1998 a ABEBD – Associação Brasileira de Ensino de Biblioteconomia e Documentação, preocupada com a formação do profissional da informação, realizou uma pesquisa com os 31 cursos de Biblioteconomia do Brasil. Na Região Sul os dados foram coletados a partir do formulário elaborado pela referida Associação e enviado aos seis cursos de Biblioteconomia: UDESC, UFSC, UEL, UFPR, UFRGS, FURG.  Esta pesquisa revelou que o Perfil almejado pelos Cursos de Biblioteconomia da Região Sul deve levar o profissional a desenvolver as seguintes características (Maia & Ohira, 1998, p. 30):

§     Atualizado

§     Criativo

§     Com atuação Interdisciplinar

§     Empreendedor

§     Ético

§     Fluente em sua própria língua

§     Inovador

§     Orientador ao usuário

§     Proativo

§     Preocupado com os fins

 

Em Santa Catarina, a pesquisa de Bandeira (1999), realizada com os bibliotecários em exercício, levantou a opinião dos mesmos, sobre quais os conhecimentos, habilidades e atitudes que devem ser atribuídas ao Moderno Profissional da Informação, visando acompanhar as exigências impostas pelo mercado de trabalho. Como resultados, foram apontadas as seguintes características:

ter paciência; agilidade, rapidez e simpatia, liderança e inteligência, flexibilidade, ser comunicativo, dinamismo, organização, atualização, boa memória,  persistência e acima de tudo, gostar da profissão.

 

Como estudo mais recente, menciona-se Tarapanoff (2000) que aponta as novas tendências para o profissional da informação nas bibliotecas universitárias, e que podem ser estendidas aos profissionais que atuam nas demais unidades de informação, mencionando ainda, que habilidades deve possuir para desempenho desses novos/velhos papéis:

·        Preservar a informação (ser responsável pela memória e cultura da produção técnica e científica local e institucional);

·        Organizar a informação para uso;

·        Acessar a informação. Conectar-se a redes, participar de consórcios e variadas formas de cooperação. Planejar a informação;

·        Ser empreendedor, personalizar/customizar a informação. Ser consultor e infoempresário. Teletrabalho;

·        Trabalhar a informação, agregar valor;

·        Socializar a informação – preocupar-se com o acesso público à informação, a informação como um patrimônio público;

·        Educar para a utilização da informação e para a sociedade da informação;

·        Valorizar o conceito econômico da informação, participar do e-commerce, oferecendo serviços e produtos exclusivos.

·        Criar, pesquisar e consumir informação.

 

Percebe-se claramente que estamos vivenciando uma fase de mudanças significativas em todos os aspectos da sociedade. Os perfis dos profissionais estão em constante processo de mudança, em função das tecnologias emergentes. Valores e paradigmas estão sendo quebrados a uma velocidade cada vez maior. A mudança do paradigma do acervo para a informação força o bibliotecário a desviar sua atenção do meio físico (documento) para seu objeto (a informação).

 

Tarapanoff (1997) discute os novos paradigmas que envolvem o fazer do profissional da informação, destacando-se os seguintes:

·        Paradigma Tecnológico;

·        Paradigma da Biblioteca Virtual;

·        Paradigma do Acesso à Informação

·        Paradigma da Qualidade e;

·        Paradigma da Cooperação

 

Para Guimarães (1997), a mudança de paradigma ocorreu gradativamente, como conseqüência das mudanças mundiais e acredita que de certa forma o perfil do MIP deve ser considerado como

uma “evolução”, uma adequação de um perfil profissional a um mundo em mudança (...) Passou-se a exigir do profissional um “jogo de cintura” (adaptabilidade) que (...) pode-se concretizar por meio de visão gerencial, acurado poder de análise, criatividade e constante atualização”.

 

Portanto, a formação do profissional bibliotecário deve estar pautada no paradigma da informação. A formação do profissional bibliotecário, no caso brasileiro, segundo Beraquet & Valentim (s.d), “passou por fases técnicas e humanistas. Atualmente a estrutura dos cursos de biblioteconomia estão, na sua maioria, direcionados para esse paradigma, o da informação, buscando um profissional dinâmico e competitivo que de fato atenda os anseios da sociedade brasileira”.